quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

24/12/09 - A ficha caiu.

Boa noite.

Faz um bom tempo que eu não escrevo, na verdade, eu normalmente escrevo com uma maior dedicação em momentos aonde eu estou impressionado, entusiasmado ou triste, como hoje.

A primeira coisa que me vem na cabeça quando eu estou triste é escrever. Como eu gosto de escrever quando os nervos estão a flor da pele! Normalmente eu consigo exalar as minhas emoções de uma maneira tão clara, tão viva, e na verdade, querendo ou não eu sinto prazer em escrever em momentos como esse, porque no fundo é um consolo.

Vocês devem estar se perguntando : porque você está assim, triste?

Pra muitos pode ser algo besta, mas lá se vai a boa e velha história...

Acabei de ver o filme Marley & Eu. Eu já tinha ouvido falar sobre o filme, muitos me disseram que era ótimo, o livro então, dizem que é uma obra de arte, e eu me lembro perfeitamente as minhas idas e vindas aos shoppings que eu sempre via o livro nas vitrines das livrarias.

Pois bem, estava jantando quando eu vi que iria passar o filme na televisão, e como bom curioso que sou, não pude deixar de perder a oportunidade de ver o filme.

O filme começou de maneira meio desinteressante pra mim, na verdade, começou a ficar bom após uma meia-hora de filme, antes disso, sendo sincero, estava chato, mas quando o Marley começou a aprontar as suas poucas e boas, o filme começou a ficar engraçado.

Noto algumas semelhanças com o autor do livro, o jornalista (e colunista) John Grogan. Primeiro o fato de eu também querer ser jornalista, mas acima de tudo eu desejo ter minha coluna no jornal (algo que ele no começo não queria, mas depois acabou se apaixonando), a semelhança dele querer ser um bom pai de família e um bom marido, e de claro, passar seus momentos felizes ao lado do seu companheiro, Marley.

Nessa última parte em geral, eu notei uma maior identidade em relação a minha pessoa, eu também tinha um cachorro, Pipoca (o da foto). Eu tinha o Pipoca desde que ele era pequeno, quando meu vizinho achou ele na rua, e quando meu vizinho se mudou eu "adotei" o mesmo (coloco o adotei em aspas porque na verdade, ele nos adotou como donos).

Assim como o Marley, o Pipoca não era muito comportado. Ele era um vira-lata, feinho que dava dó e muito enérgico, então tenho boas lembranças de sua fase jovem, onde ele corria, brincava, pulava, se jogava, fazia bagunça, e estava sempre presente em minha vida, e eu, como era mais jovem também, me lançava ao pique do mesmo.

Como esquecer que eu tinha que fazer mil e uma coisas pra prender ele dentro de casa quando eu ia pra escola ou pra catequese, já que ele me seguia? E como esquecer que eu uma vez tive que latir pra uns cachorros correrem atrás dele pra ele voltar pra casa enquanto minha mãe me levava pra casa da minha tia? Isso sem contar nas outras vezes que ele rasgava o jornal, destruia as plantas, arranhava o carro da minha mãe, corria atrás das pombas,e por aí vai...

Essas são apenas algumas partes das lembranças que tenho dele, daria pra escrever um "Pipoca & Eu", mas acho que ainda não estou preparado e com saco pra plagiar um futuro companheiro de profissão, fato é que não só o Marley, o Pipoca, enfim, todos os cachorros tem uma ligação muito forte com o dono, então não precisa de muito pra você começar a se identificar com a relação dos dois no filme.

Pois bem, o filme foi passando, a vida vai passando, e tudo vai envelhecendo, isso serve pro Marley, John, Pipoca, eu, você, tudo, e Marley já não era mais aquele "pior cão do mundo" como John mesmo dizia sempre, a idade começa a pesar, os ossos e o fôlego não são mais os mesmos, e Marley por bem ou por mal, se aquietou.

Pipoca também teve essa fase, coitado, estava praticamente surdo e cego. Dormia o dia todo, já não pulava mais em minhas pernas, não corria atrás de mim, não rasgava os jornais, ainda corria atrás das pombas, mas só porque essas vinham comer a comida dele, mas notava-se também que a idade começava a pesar.

Não sabemos ao certo o que fazer quando isso acontece. As vezes é complicado aceitar que o seu companheiro de anos envelhece mais rápido que você, que ele por lógica, vai morrer antes de ti, e enfim, como será a sua vida sem esse elemento que viveu tanto tempo ao seu lado e te trouxe tanta alegria?

O filme tem um final triste, bem comovente, Marley é sacrificado, e John estava ao seu lado nesse momento, não sai da minha cabeça a cena em que Marley está tomando aquela injeção e ele e John não param de se olhar fixamente nos olhos, até que os olhos de Marley se fecham pra sempre.

Um ato de companheirismo imenso, admirável. Marley não era apenas um amigo, era um membro da família, como se fosse sangue do sangue de John, e naquele momento me veio a imagem do Pipoca, que eu infelizmente não estava perto do mesmo quando ele faleceu, que eu estava voltando de viagem, e que simplesmente aceitei numa boa sua morte, porque eu já esperava isso, sabendo que ele já estava velho e que isso poderia acontecer em qualquer momento.

A ficha caiu.

Nessa hora, eu, que normalmente sou duro para chorar sobre filmes e coisas do tipo, não resisti e chorei. Chorei algo que estava preso dentro de mim. Chorei por não ter mais o Pipoca do meu lado, chorei por não estar ao seu lado quando eu queria estar, chorei por não ter mais ele fazendo festa quando meus amigos chegavam em casa, chorei porque não tinha mais ele comendo a comida da gata, chorei porque não ouvia mais os grunidos do Pipoca quando ele se coçava, chorei por não ter passado tempo suficiente com ele (na verdade, nunca achamos que passamos), chorei por inúmeras lembranças que eu tive com ele e que infelizmente nunca mais terei.

Que sorte você tem John, que sorte você teve em se despedir do Marley, em estar do lado dele mesmo no momento de sua morte. Que sorte que você pode dizer suas últimas palavras pro seu cachorro. Queria eu ter feito o mesmo, ficado ao lado dele e dito tudo o que eu gostaria de dizer naquele instante.

Isso não faz o John um dono melhor do que eu, do que você, do que ninguém, a dor da perda de um companheiro também não é mais forte do que os momentos que passamos juntos dele. Na verdade, John apenas relatou seu cotidiano com um cachorro, onde todos poderíamos relatar e fazer o mesmo sucesso que ele fez em seu livro, mas eu tenho certeza, que apesar do tristeza da morte de Marley, John escreveu esse livro com todo o amor que sentia pelo cachorro, com todo a afeição que ele sentia pelo mesmo, e assim como eu chorei ao ver o filme e derramei algumas lágrimas ao escrever isso aqui, tenho certeza que John também chorou enquanto escrevia seu livro.

Lembranças que sempre estarão em nossa cabeça. Talvez eu leia o livro, talvez não, não sei se suportaria ler tudo aquilo e relembrar os momentos que tive com o Pipoca e não chorar, e cá pra nós, eu não gosto muito de chorar, mas com certeza, sempre que eu ouvir falar sobre o livro ou o filme, a primeira coisa que virá em minha mente será que assim como John, eu também tive um companheiro fiel, um cachorro que durante anos alegrou a minha vida, e que nada, nada mesmo, vai um dia apagar as lembranças que eu guardo dele.

Desculpe por não estar ao seu lado na hora de sua morte Pipoca, talvez você tenha escolhido aquela hora pra não me ver sofrer e chorar igual eu está acontecendo agora comigo, talvez você quisesse passar despercebido, talvez você não tenha aguentado mais um dia pra eu me despedir de você, eu não sei ao certo, mas você pode ter certeza que eu não esquecerei de você nunca, que eu sinto sua falta todos os dias, desde o momento que eu chego em casa e vejo sua casinha ainda no quintal, até quando eu vou deitar e não ouço mais seus latidos.

Você faz falta, MUITA.

E eu sei que vou te encontrar em algum lugar ainda, e vou poder falar tudo isso pra você olhando nos seus olhos, igual John fez.

Frase do dia;

"Apesar de tudo, de todas as desilusões e expectativas não correspondidas, Marley tinha-nos dado uma prenda, ao mesmo tempo grátis e sem preço. Ensinou-os a arte do amor absoluto. Como da-lo e recebe-lo. Quando é assim, todas as outras coisas tendem a dar certo." - John Grogan, jornalista e autor do livro Marley & Eu.